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sábado, 18 de setembro de 2010

As mundanças nos quadrinhos




Os quadrinhos são um meio maravilhosamente versátil. Com a combinação potente de palavras e imagens, a tira de quadrinhos pode retratar qualquer coisa que um cartunista tenha a imaginação para visualizar.


É claro, o negócio jornalístico coloca restrições severas nas tiras de quadrinhos. Os quadrinhos são produzidos com um prazo diário inflexível e recebem pouco espaço para escrever ou desenhar. Além disso, porque freqüentemente se presume que os quadrinhos são diversão de crianças, e porque eles devem atrair um público enorme e diverso para serem lucrativos, há restrições editoriais também: assuntos e opiniões controvertidos raramente são tolerados. As necessidades comerciais, de mercado de massa dos jornais não costumam ser simpáticas às preocupações da expressão artística. É difícil para uma nova tira chegar aos jornais, e poucas tiras sobrevivem por muito tempo. Os jornais já têm suas páginas de quadrinhos cheias de tiras populares, e a única maneira de um jornal trazer uma nova tira é cortar uma velha tira. A nova tira deve rapidamente se firmar nos corações dos leitores, ou é a primeira a ir quando outra nova tira aparece. A competição excede de longe os espaços disponíveis, e os resultados são darwinianos.


As tiras líderes, porém, podem prosseguir década após década. Belinda está nos jornais há setenta e cinco anos, e Recruta Zero, Pimentinha e Peanuts estão todos na casa dos quarenta. Até Doonesbury já está por aí há vinte e cinco anos – quer dizer, um quarto de toda a existência dos quadrinhos. Há muito pouco giro no topo deste ramo. As tiras mais populares se tornam instituições e podem assegurar seus espaços no jornal por gerações.


Eu acho que a permanência de tiras familiares e a falta de mudança dentro das tiras é responsável por grande parte da sua popularidade. Num jornal cheio de horrores surpreendentes, é um pequeno ritual reconfortante ver os seus personagens favoritos a cada manhã, por alguns segundos, enquanto toma café. Eles se tornam uma espécie de amigos. Nós nos preocupamos com eles quando estão com problemas, e contamos com eles para olharem para a vida com uma tirada ligeiramente divertida que pode até nos ajudar a fazer o mesmo. Eles estão lá para nós sete dias por semana, ano após ano.


Acrescentando a essa coerência, os personagens de quadrinhos tipicamente continuam da mesma idade e mantêm a mesma aparência (com freqüência até as mesmas roupas todo dia), não importa como as coisas mudem no mundo real. Na maioria das tiras, certos eventos e situações previsíveis ocorrem freqüentemente com apenas pequenas variações. Na maioria das tiras, pode-se esperar que toda história termine com os personagens de volta onde começaram. Na maioria das tiras, o elenco regular é invariável. O mundo de uma tira de quadrinhos é simples e duradouro, um minúsculo Oasis de estabilidade num mundo confuso e sempre em mutação.


Ou, pelo menos, costumavam ser. Ultimamente, mais tiras têm abordado assuntos controvertidos, e tem havido férias, aposentadorias precoces, exigências de tamanho e formato, e brigas sobre questões de controle criativo. Alguns comentaristas (inclusive uns poucos cartunistas) explicam esses eventos recentes como os “chiliques” auto-indulgentes dos gorilas de quatrocentos quilos da profissão, mas eu creio que esses críticos não estão vendo o quadro todo. No centésimo aniversário estão num período de grande transição.


A primeira transição é simples: os quadrinhos estão iniciando uma das suas raras mudanças de geração. Quando uma tira popular pode durar facilmente quarenta ou cinqüenta anos, os principais cartunistas definem a profissão por esse período. Cartunistas que começaram nas décadas de 50 e 60 mudaram a direção das tiras de quadrinhos e definiram os padrões desde então. Recentemente, novos talentos conseguiram chegar até as fileiras do topo, trazendo junto algumas idéias diferentes sobre os quadrinhos devam ser.


A segunda transição é de interpretação artística. Durante o último século, a fronteira entre arte comercial e artes finais foi grandemente borrada. Enquanto desenhos originais de tiras eram um dia dados para fãs ou destruídos para economizar espaços de armazenamento, hoje cartuns originais são vendidos em galerias por centenas ou milhares de dólares. Enquanto cartunistas um dia foram considerados operários substituíveis, agora - em certos casos – os sindicatos estão reconhecendo que apenas o criador original é capaz de produzir a visão única da tira. Os acadêmicos agora escrevem a respeito dos quadrinhos como histórias e comentários sociais. Há diversas coleções e museus de cartuns. Quadrinhos recebem prêmios Pulitzer. Pode-se debater se a maioria dos quadrinhos é ou não uma Grande Arte, mas não se pode negar que os cartunistas e o público levam os quadrinhos mais a sério do que costumavam fazer. Cada vez mais, os cartunistas estão considerando suas criações como uma forma de expressão pessoal. Questões de controle criativo estão se tornado relevantes para os cartunistas, e velhas presunções sobre a maneira em que o negócio é conduzido estão sendo questionadas.


Terceiro, o próprio ramo dos jornais está mudando. Os quadrinhos foram inventados no final do século XIX, quando cidades tinham até meia dúzia de jornais, cada um tentando superar o outro para atrair o público o público de enormes novas populações de imigrantes. As tiras eram visuais, fáceis de entender, engraçadas, indisciplinadas e vulgares por projeto e portanto imediatamente populares. Os cartunistas tinham poucas pretensões sobre o significado artístico ou cultural do seu trabalho.


Desde o começo, os quadrinhos foram considerados como um produto comercial que existia para o fim de aumentar o público dos jornais. Os cartunistas se consideravam jornalistas, não artistas. O seu trabalho, pura e simplesmente, era ajudar a vender jornais.


Desde aquele tempo:


• Sindicatos transformaram os quadrinhos num grande negócio. No começo, os cartunistas eram contratados por jornais individuais para produzir quadrinhos exclusivamente para aquele jornal. Hoje, os cartunistas trabalham para sindicatos que vendem suas tiras para jornais em todo o mundo. Isso quer dizer que uma tira hoje precisa de um apelo muito amplo. Enquanto os primeiros cartunistas experimentavam, começando e parando tiras à medida que seus interesses mudavam e descobrindo o que agradava ao público local no caminho, a sindicalização encorajou a produção calculada de tiras para espelhar tendências e capitalizar nos interesses específicos de grupos demográficos desejáveis. Comercializar tiras em grande escala encoraja os quadrinhos a serem conservadores, facilmente categorizáveis, e imitadores de sucessos anteriores. Os quadrinhos ganharam públicos imensos e se tornaram muito lucrativos dessa maneira, mas a algum custo da exuberância primitiva dos quadrinhos.


• Agora há muito menos competição entre jornais. Cada cidade grande costumava ter vários jornais lutando pelos leitores,e uma tira apreciada poderia ajudar dramaticamente a circulação de um jornal. Tiras populares iam para o jornal que pagasse mais, e os outros jornais iriam correr para comprar outras tiras que poderiam ajudá-los a competir. Hoje, a maioria das cidades tem apenas um jornal, e o jornal sobrevivente pode ter qualquer tira que quiser. Ele irá obviamente comprar as tiras mais populares, e sem outros jornais para pegarem as outras tiras, as tiras grandes ficam enormes, e as tiras pequenas jogam cadeiras musicais e desaparecem. Há pouco espaço hoje em dia para um tira “cult” peculiar com público pequeno porém devotado. Há menos vagas para novas tiras, menos oportunidades para tiras marginais sobreviverem, e há menos tempo para uma tira achar o seu público.


• A televisão substituiu jornais como a fonte de informações da maioria das pessoas. Os custos de produção dos jornais subiram, a circulação não subiu, e algumas das grandes contas de publicidade abandonaram os jornais. Um tira de jornal poderia uma vez ter atraído leitores de um jornal para outro, mas os quadrinhos não atraem pessoas da televisão. Os quadrinhos ajudam menos os jornais do que costumavam, então os jornais olham para a página de quadrinhos como mais um lugar para cortar custos. Eles espremem mais tiras em menos espaços, forçando os cartunistas a escreverem e desenharem de maneira mais simples para continuarem legíveis. Com menos palavras e desenhos mais grosseiros, os quadrinhos se tornam menos imaginativos e menos divertidos, A ironia disto é que os jornais estão desesperados para atraírem leitores criados no impacto visual da televisão. Os jornais gastaram muito dinheiro para melhorarem a diagramação e acrescentaram mapas, gráficos e fotografias coloridas, enquanto os quadrinhos – o único componente gráfico nos jornais – tipicamente definham numa única página de pequenas caixas preto e branco organizadas numa grade tediosa. Ao imporem de maneira pouco imaginativa formatos padronizados e reduzidos a todos os quadrinhos, os jornais dão aos quadrinhos espaço suficiente em custos, não espaço graficamente eficaz.


Por causa de todos esses desenvolvimentos, a relação tradicional entre cartunista, sindicato e jornal tem sido forçada. À medida que as circunstâncias mudam, cada parte tenta proteger os seus próprios interesses. Os jornais estão cortando custos ao cortarem espaço e tiras. Sindicatos respondem se diversificando para licenciamento e editoras. Os principais cartunistas estão exigindo controle sobre o seu trabalho, e alguns estão deixando totalmente o ramo. Com menos objetivos e necessidades comuns, há menos confiança e cooperação.


Como um cartunista que fez a sua parcela de agravar a situação, me parece que bons quadrinhos são do interesse de leitores, jornais, sindicatos e cartunistas. Porém, as melhores tiras do passado teriam dificuldades nos jornais hoje. A esotérica porém brilhante Krazy, mal comercializável no seu tempo, teria problemas para encontrar um editor disposto a defender sua visão única hoje. Seria improvável que tiras de aventura como Terry e os Piratas arrastassem leitores para suas aventuras exóticas, agora que a linda ilustração é sufocada pelas caixinhas disponíveis para tiras. Popeye usava até vinte quadros no domingo para criar sua energia furiosa, uma impossibilidade total nos espaços de um quarto de página de domingo de hoje. Tiras contínuas estilo “novela” quase desapareceram, incapazes de manterem seus enredos atraentes com a redução de diálogo necessária em quadros pequenos. Os quadrinhos estão perdendo a sua variedade.


Sessenta anos atrás, as melhores tiras não eram só desenhadas de forma divertida, elas eram lindas para se olhar. Eu não consigo pensar numa única tira hoje que chegue perto daquele padrão de competência técnica. Agora nós temos tiras de piadas com desenhos simples em abundância, e nada mais. Nós perdemos uma parte essencial do que torna os quadrinhos divertidos para se ler. Enquanto desenhos animados e gibis estão se tornando sofisticados, mais bem produzidos, e mais populares do que nunca, as tiras de jornais estão enfraquecidas.


Eu ouvi ser argumentado que os leitores de hoje não têm mais paciência para histórias complicadas e arte rica nos quadrinhos. Pesquisas de popularidade são citadas para mostrar que os quadrinhos estão indo bem do jeito que são. Eu discordo e acho que é um erro subestimar o apetite dos leitores pela qualidade. Os quadrinhos podem ser muito mais do que são atualmente. Tiras melhores poderiam atrair públicos maiores, e isso ajudaria os jornais. O potencial dos quadrinhos – como vendedores de jornais, e como uma forma de arte – é grande se os cartunistas se desafiarem a criar trabalhos extraordinários e se o ramo trabalhar para criar um ambiente de apoio para ele.


FONTE:http://depositodocalvin.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Caro amigo Pedro. Li algumas partes do seu texto e devo dizer que sou um pouco nostalgico em relação a quadrinhos. Se eu pego um Gibi dos anos 60 para trás, devoro como fazia no tempo de cirança que as vezes deixava até de almoçar pra terminar de ler.
    Mas os HQs atuais com esses recursos do PC e o modismo que chamam de mangá, não consigo ler duas paginas, inclusive as tiras, que.. sei lá, parecem um pouco repetitivas.Eu gostava mais quando se fazia Hq em cima do talento e criatividade do desenhista, e não por um programa de computador. Gostei imensamente do seu texto, bem esclarecido. fui ilustrador free lance, grande abraço.
    meu blog:http://artesdepolo.blogspot.com.br/

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